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Saudações tradicionalista!

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terça-feira, 4 de outubro de 2011

EMENTÁRIO DA ALMA - Henrique Fernandes


EMENTÁRIO DA ALMA
AUTOR : Henrique Fernandes
DECLAMADOR: Henrique Fernandes
AMADRINHADOR: Gabriel Lucas dos Santos (Selvagem)
1º Lugar na Sesmaria da Poesia Gaúcha - 16ª Quadra - Setembro de 2011

Morri antes de mim...
...sucumbido neste tempo de vaidades e ganâncias...
Morremos eu e a estância... galpão, mangueira e palanque.
-arquitetura entalhada nos relicários da alma-...
Restos mortais de um tempo, que o próprio tempo apagou...
Morri bem antes de mim... emoldurando a memória
na cicatriz empedrada que a taipa de pedra moura
ostenta a própria raiz...

Assim fora o meu tempo...
Edificado no espaço, de uma linha imaginária
que delimita o que sou. Talvez um vulto de outrora
tentando encontrar o hoje, pois o ontem... já passou...
Perdi a conta dos anos entre os nós de uma taquara
que como eu, tapejara... envelheceu e secou...

E no umbral dos pensamentos,
me encontro “lejo”de mim ...
...”alpargatiando” a existência no ermo dos corredores
como quem busca os valores extraviados nos confins...
...valias que o sentimento guardara como um tesouro
pois nem as cifras do ouro pode compra-las assim...

O valor de um bem querer...
...a riqueza da humildade...
o abraço sem maldade, o sorriso sem desprezo...
A compaixão a um igual, que por azar ou destino
perdera o rumo e o tino trocando o bem pelo mal...
...o valor de perdoar e estender a mão amiga...
...de acalantar uma dor, com o balsamo do amor
para a cura das feridas...

Há...! Paisano...
...será preciso morrer para entender este mundo?
pois em menos de um segundo a terra treme de raiva e
leva pra junto dela lotes e lotes de gente...
... será que a dor inclemente paga o erro de uma culpa
“reincenando” o calvário condenando um inocente?
Seria lindo Paisano...!
Bater tição de espinilho reavivando as brasas d’alma,
pra fogonear madrugadas, sorvendo a seiva de um verso...
...pitar a calma das horas, reascendendo a memória
do meu pequeno universo...um mundo de simplicidade,
que o bem maior é a amizade no mais puro sentimento...
...um mundo de fantasia, que a realidade é a poesia
escrita com mãos de vento!

Sim... morri antes de mim...
Resignando lamentos pelos tentos ressequidos
que de a cavalo remendo bem na ilhapa da saudade...
... e enrodilho recuerdos ungidos de tempo antigo
que vieram morar comigo nos campos da eternidade...

Fidalgo tempo de antanho, que carreteando o passado
nos engarupa o legado de uma vida que cruzou...
...em memorial as distâncias que a trote largo trilhei,
pois junto a estância findei e voltei ser o que sou...
Ruínas de pedra e barro, e madeiras carcomidas,
que guardam mais que uma história...
são restos mortais de glória
das xucras batalhas da lida!
E como eu... um buçal sem gargantilha de cabrestilho atorado...

as esporas sem rosetas de aço enferrujado...
...bacheiro de lã trançado que ainda guarda o cheiro de algum lombo suado.
...as comitivas de agosto e as rondas em lua cheia,
rodas de mate e causo, num cenário mobralesco
de um galpão de estância véia.
-morreu o tempo das flores colhidas nas primaveras,
sacrificando seu ciclo de sementar florações
para ofertar corações pelo amor de uma donzela...
-morreu o tempo da esquila no matraquear das tesouras...
que afinavam seu canto na pauta crua dos velos,pelo nascer das auroras...
-morreu a voz do ponteiro chamando a tropa na estrada,
tropelias, clarinadas, changas de doma e alambrado.
...calou a voz do cincerro, junto ao rangido do basto,
que se apagaram no rastro dos cascos e das esporas...
-morreu o tempo do vento, que mesmo livre e sem dono
sopra ares de abandono salmodiado em desalento.

Busco razão e apego,
neste erudito terrunho que o campo por singular,
nos da razão pra sonhar e cantar a própria terra...
tatear a face da alma, no espelho das aguadas
de uma cacimba empedrada que guarda a paz das taperas...
São linhas de um testamento que o baú dos pensamentos
esqueceu aprisionado nos porões da minha infância...
...e assim neste ementário, reescrevo meu inventário
do que me resta de herança...deixo o pago e as planuras,
sesmarias de ternura pra o pastejo da esperança...



Fonte: http://www.sesmaria.org.br/

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